A revista Veja de abril deste ano, (AJUDA PARA MORRER. Revista veja. Editora Abril. Edição 2162. Ano 43 - nº 17. 28 abr. 2010), trás na capa a manchete "Ajuda para morrer", a matéria relata como médicos pacientes e familiares encaram o momento de proximidade com uma morte iminente. Destas scolhemos duas histórias para ilustrar o tema. Eles fazem uma abordagem de um ângulo mais humano e menos técnico. Mostrando como eles enfrentaram este período doloroso em que a vida de seus entes queridos se tornou apenas um prolongamento da morte, e ainda, como aceitaram a difícil tarefa de ajudá-los na minimização do sofrimento.
O médico infectologista Artur Timerman, conta que ficou três anos pensando no pedido de um paciente vitima de sarcoma de Kaposi, que segundo ele é um câncer comum em portadores de HIV. O corpo do paciente estava cheio de ulceras e hematomas, que nem o mais potente analgésico seria capaz de faze - lo suportar as dores. "Não tenho mais vida, doutor. As dores estão insuportáveis. Eu quero ir embora... Por favor, me ajude". Foi o pedido que fez a Timerman.
Depois de três anos pensando, e conversando com o irmão, parente mais próximo da vitima, Timerman tomou a decisão. Em comum acordo, médico, família, paciente, ele foi acomodado em um quarto arejado com vista para as copas das árvores. No mesmo dia, na presença do médico e do irmão, uma enfermeira administrou-lhe um coquetel de sedativos e analgésicos. Em dez minutos ele adormeceu, de mãos dadas com o infectologista, e ouvindo sua música preferida, o quinteto de cordas de Felix Mendelssohn. Em 24 h, a agonia teve fim. Com trinta anos de profissão Timerman chorou. "Não era um choro de ansiedade" diz. "Não tinha a menor dúvida do que estava fazendo: respeitei a autonomia de um paciente em plenas condições mentais de discernimento, mas que estava em estado terminal e era acometido por sintomas horrorosos, contra os quais nada poderia ser feito". No atestado de óbito, a causa da morte foi registrada como parada cardiorrespiratória.
"Orgulho - me de ter respeitado a autonomia de meu paciente". Finaliza o médico.
Histórias assim, são cada vez mais freqüentes, embora, as pessoas ainda associem a imagem de doentes terminais a velhinhos, preso a uma cama, sem condições de expressar suas vontades. Entretanto este conceito vem mudando.
Embora, deva - se sempre avaliar o contexto em que a decisão sobre a vida e morte é tomada, deve - se também respeitar a autonomia do paciente. O testamento em vida e uma opção para pessoas que querem tomar suas próprias decisões. Instrumento legal nos Estados Unidos o Living Will, (testamento em vida), foi idealizado na década de 60 pelo advogado americano Luis Kutner, o documento é um registro expresso da vontade do paciente de ter ou não sua vida prolongada, em casos de doença terminal.
Atualmente o inglês Tony Judt, historiador de sucesso enfrenta o avanço de uma doença neurodegenerativa, a esclerose lateral amiotrófica, que ataca progressivamente os neurônios responsáveis pelas funções motoras, matando - os. Em pouco tempo, as vitimas perdem os movimentos do pescoço para baixo. Em estágio avançado limita os movimentos involuntários e os pacientes precisam da ajuda de ventiladores mecânicos para respirar. Judt se encontra nesta fase, e nada pode ser feito.
Segundo ele, a esclerose lateral amiotrófica não causa dor, porém em pouco tempo foi perdendo a capacidade para desempenhar as tarefas mais simples, até chegar ao estágio em que se encontra hoje, preso a uma cadeira de rodas. Casado com uma mulher 13 anos mais jovem e pai de dois filhos adolescentes, diz que sempre foi um homem ativo que viajava muito para escrever seus livros. "Hoje, não me olho mais no espelho. Já não penso mais em mim como um ser físico". Entretanto a mente de Judt continua intacta e usa isso como distração. Atualmente dá entrevistas a cerca de um livro que esta escrevendo sobre suas teorias a respeito do século XXI. Como meio de tornar a doença mais tolerável. Questionado sobre o tempo que ainda tem de vida Judt diz: "Eu não faço a menor ideia de quanto tempo ainda vou viver. Como minha doença progrediu muito rápido no começo, os médicos acreditavam que eu já estaria morto a esta hora. Eu e minha família decidimos viver sem conjecturas sobre o próximo mês. E assim tem funcionado". Em relação à eutanásia, acredita que sua vida não precisa de ajuda para acabar, mas questiona - se até que ponto vale a pena deixá-la seguir na situação em se encontra. Ele não descarta a possibilidade. "Isso muda a cada dia. Dois anos atrás, eu diria que viver do jeito que estou seria insuportável. Agora, penso que o limite vai chegar quando eu não puder mais falar e não tiver meios de comunicar meus sentimentos e minhas idéias".
Até que ponto a preservação da vida, ou o alivio do sofrimento em situações como a de Judt e de outras inúmeras pessoas fazem sentido?
A questão é que, de certa forma disfarçada, enfraquecida e desumanizada pelos avanços da medicina moderna, a morte deixa de ser algo surreal, e vai mudando sua face ao longo do tempo. A consciência de uma morte digna para seus entes queridos tem feito mais famílias ao redor do mundo recorrer a pratica da eutanásia, numa tentativa, justificada pela emoção, pela compaixão de aliviar o sofrimento. Questionar quanto à veracidade desta explicação, é plenamente aceitável, contudo deve - se também respeitar as decisões, desde que tomadas em um consenso e com o consentimento do paciente.
A medicina atual avança na possibilidade de salvar mais vidas, entretanto, como ressalta o professor França. "É possível que a medicina venha rever seu ideário e suas possibilidades, tendo a "humildade" de não tentar "vencer o invencível"".
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